domingo, 5 de novembro de 2017

Quando penso em vc fecho os olhos de saudade

Quando o tempo corrói a memória deixando lacunas nas lembranças, me apego ao que restou. Queria de volta a música que tocou, a palavra que se calou, e a lembrança do beijo que nunca mais voltou.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

24 anos

Conseguir ler o outro nos gestos não é ser previsível,  é ser íntimo, é conquista construída.   É entender que quando coça o cotovelo é pq está sem graça, e que quando assovia esquisito é pq está tenso.  Hoje, depois desses anos todos,  se por acaso nos tirassem as palavras,  ainda assim teríamos longas e divertidas conversas de seu coração com o meu.
Por onde for, serei sempre seu par.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Mal acompanhada

Enquanto eu olhava para aquele cabelo todo arrumadinho, parecendo ter sido penteado pela avó, eu pensava em quantos anos de cadeia eu pegaria por matar minha amiga que promoveu este encontro.
Ainda podia ouvir a voz dela na minha cabeça dizendo: 
- Ele é uma graça, vc vai ver, vai dar super certo!
O problema nem era o cabelo pq aquilo eu despenteava. Mas só ele falava! Só as histórias dele eram interessantes. E quando eu tentava falar algo, ele me atropelava com a frase:
- Isso me lembra uma história ótima que aconteceu comigo em Moscou.....tb teve na Austrália....a China é ótima( que aliás ele foi 9 vezes).....o azul do mar da Grécia é inesquecível. 
- Viu querido, desculpe te interromper, mas, e na puta que pariu vc já foi? 
Mas é claro que só pensei isso!
E ele continua:
- na fazenda de vovô tinha todos os bichos do mundo, tinha pavão, porco, cavalo, galinha, pato....
- E unicórnio tinha? (novamente só em pensamento).
Enfiei um sushi enorme na boca pra engasgar e chamarem a Samu assim eu sairia dali.
Mas a noite e minha paciência chegaram ao fim ( não simultaneamente, é claro), e ele me deixou em casa.
Antes que eu descesse do carro, ele disse:
-Foi ótimo, precisamos repetir Lídia! 
Eu sorri educada, e pensei:
- É Ligia seu babaca!!

Silêncio

Existem dias em que parece que todo barulho do mundo ecoa dentro de mim. São pessoas, buzinas, marido, filhos, pensamentos. ... Preciso de silêncio e solidão, flutuar num espaço sem gravidade e sem culpas. Silêncio orquestrado e respeitado pelo saber alheio de que há dias assim. São poucos, mas eles existem, e são extremamente necessários. Ali você se organiza, depura e se cura. São dias sem sol, sem alegria, sem raiva, sem sentido, sem sentir.
Só me dê silêncio hoje, que amanhã eu volto.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Mal tempo

Lá fora os raios cortam o céu e os clarões iluminam dentro de casa. A vela já tá acesa no fundo de uma xícara velha.
Minha mãe está sentada aos pés da nossa cama com os olhos preocupados. Era sempre assim.
Era só ter tempestade que lá ia ela guardar todas as tesouras e cobrir todas as imagens de santo que tinha pendurados pelas paredes.
Ela falava:
Precisa cuidar pq isso atrai os raios pra dentro de casa.
E ai daquele que risse!!
Enquanto todos nós não estivéssemos dentro de casa em segurança ela não sossegava.
Aprendi logo cedo que nos temporais que a vida nos traz, pode chover, ventar, ter raios e trovões, que basta estarmos juntos pra tudo ficar bem.
Tem gente que anda junto
mesmo estando em outra estrada.
Tem gente que tá do lado mesmo morando em outro planeta.
Tem gente que nunca vai embora, por que mora dentro da gente. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Incertezas

Alguém querido morreu,
E relutou muito pra partir
Foram meses de sofrimento, agonia e dor.
Pensei: Nascer é mais fácil que morrer.
Mas será mesmo?
Não sabemos o que se passa no útero materno antes do nascimento.  Será que há sofrimento e dor para o bebê no momento de chegar a este mundo assim como para deixá-lo?  Na verdade, são ciclos muito parecidos.  Existem mortes instantâneas,  outras lentas e sofridas, tb partos assim. 
Na morte, algumas pessoas se vão muito cedo; no nascimento, algumas chegam muito cedo.
E todo o mistério que envolve o começo e o fim da vida. De onde viemos, para onde vamos....O bebê ainda no útero, não sabe se existe vida após o parto. Da mesma forma que mergulhamos na escuridão da incerteza da morte, desejosos de que, assim como no nascimento,  haja amor e colo a nossa espera.